Recentemente, adquiri para minha coleção pessoal uma cópia do manual de instruções do game Star Fox para Super Nintendo com nosso amigo e colecionador David Rayel (se você não conhece o cara, leia aqui nossa entrevista exclusiva). Eu possuía apenas o jogo, e para colecionadores de games antigos, tê-los em sua concepção original e completa agrega muito mais valor, mesmo com as dificuldades em encontrá-los. Peguei-me então a folhear o pequeno encarte ilustrado e percebi uma coisa interessante. Lembrei-me como era notável o carinho e o cuidado que as desenvolvedoras davam aos seus games antigamente.
Além das instruções técnicas de como usar o produto corretamente, o livreto era cheio de belas artes e textos contando uma breve história do universo do game, apresentando os personagens, suas motivações, características, etc. Existem também casos divertidos e curiosos, como no manual do game GoldenEye 007 do Nintendo 64. Na página onde consta as informações legais e de proibição de cópias não autorizadas, há a imagem do ator Pierce Brosnan apontando sua arma para o leitor. Ai de quem fizer uma cópia ilegal… Hoje sabemos que, em uma época sem internet, esses manuais talvez fossem a única fonte de informação sobre o jogo, além do próprio jogo é claro. O fato curioso aqui é que estamos falando de uma cópia “standard” ou padrão do game.

Alguns jogos tinham algo a mais além dos manuais, como formulários de serviços diversos e até mapas! The Legend of Zelda: A Link to the Past, também para Super Nintendo, vinha com um grande mapa ilustrando o vasto mundo do game, auxiliando o jogador em sua divertida exploração. Caso você não quisesse jogar com a enorme folha de papel ao lado, tinha a opção de enfeitar a parede de seu quarto com um belo pôster. E convenhamos, quase TODOS os jogadores em alguma época, ao adquirirem um jogo, não corriam para colocar o cartucho ou o disco no videogame sem antes folhear o manual, apenas para ver as imagens e textos (mesmo que em outra língua) de seus personagens favoritos. Quando eram bem produzidos, atraíam tanta atenção quanto o próprio game!

Muita gente pode não se importar com esses detalhes atualmente, é compreensível. Afinal as mudanças de público, tecnologia e meios digitais para se jogar são necessários para o mercado estar sempre forte e competitivo. O mundo está mais rápido e as empresas perceberam que os gamers atualmente não ligam mais para isso. A distribuição de jogos digitais está mais forte do que nunca e caminha para ser o novo padrão da indústria. Entretanto, comparando os jogos físicos da atual geração de videogames com os antigos, pessoalmente sinto muita falta desses adicionais nas caixinhas.
A “caça às bruxas” aos manuais de instruções dos jogos começou a tomar forma no final da sétima geração, talvez com a Ubisoft ou a EA Games e pasmem, a desculpa era tornar os jogos ambientalmente mais corretos. Entendo a questão ecológica e concordo com ela, mas existem opções no mercado de produtos que não agridem o meio ambiente e conservam a qualidade. O que de fato aconteceu é que os manuais começaram a ter cada vez menos conteúdos extras e interessantes, focando apenas nas informações redundantes sobre como jogar e etc, coisa que o jogador vai aprender eventualmente dentro do próprio game. A internet também contribuiu para isso. Se você quer saber mais detalhes sobre um jogo, como enredo ou dicas por exemplo, pode recorrer à comunidade com inúmeros fóruns, além de sites oficiais e não oficiais.

Ah mas você pode comprar a edição de colecionador super completa, que vem com todos os adicionais que tem direito, estatuetas, trilha sonora, além de Season Pass e muitas DLCs! Sim jovem, mas por quê raios eu preciso pagar a mais por coisas que desde sempre estiveram nas caixinhas dos jogos? Essa é nossa amada indústria hoje em dia. Se você preferir uma versão física de um game para Xbox One, PlayStation 4 ou Nintendo Switch por exemplo, não terá muita emoção ou curiosidade ao abri-la pela primeira vez.
O máximo que vai encontrar além do disco, é um mísero panfleto com poucas instruções de uso ou pior, um anúncio de camisetas temáticas na loja da desenvolvedora (tive essa experiência com Assassin’s Creed: Origins). O discurso é sempre o mesmo: Os jogadores não se interessam mais, ou os jogos estão cada vez mais caros para serem produzidos, e custos precisam ser cortados.

Até mesmo a Nintendo, que sempre se mostrou cuidadosa com os itens que acompanhavam seus jogos, hoje parece ter aderido à “morte aos manuais”. Basta observar o conteúdo da caixa de um dos seus principais lançamentos para o Nintendo Switch (imagem abaixo).

O conteúdo adicional no box dos jogos hoje em dia pode ter desaparecido, mas existem as exceções. Se você é fã da saga The Witcher, deve ter ficado até emocionado ao adquirir e abrir a embalagem de uma cópia simples do terceiro capítulo do game, lançado em 2015. A CD-Projekt Red, desenvolvedora do título, soube agradecer o apoio da comunidade de fãs e presenteou-os com uma grande quantidade de mimos na versão BÁSICA do game The Wither 3: Wild Hunt. O pacote vem acompanhado de, além das mídias, uma emocionante carta de agradecimento dos produtores, o manual tradicional, um livro com inúmeros detalhes do mundo do jogo e seus personagens, um belo mapa, dois adesivos, e um disco adicional com a trilha sonora! Casos como esse hoje em dia são realmente uma exceção.

E você, também acha que os manuais e conteúdos exclusivos já tiveram seu tempo, ficando restritos apenas a colecionadores, sendo pouco útil hoje em dia a jogadores casuais? Ou assim como eu, acredita no valor que os belos encartes traziam para o mundo dos games.